O Basquete e a Luta pela Inclusão

Assim como no futebol, o basquete se tornou muito mais do que um esporte para entretenimento, e sim um símbolo de representatividade para aqueles mais vulneráveis que buscam identidade, companheirismo e sucesso.

O esporte foi inventado pelo professor de educação física James Naismith em Springfield, Massachusetts, nos Estados Unidos em 1891, e em 1946, também nos Estados Unidos, foi fundado a NBA (National Basketball Association), a mais conhecida liga de basquete do mundo.

O esporte se popularizou rapidamente pelo território americano e também pelo mundo, chegando rapidamente na periferia do país e se tornando um dos esportes mais populares do globo.

Mesmo atingindo fortemente as zonas periféricas dos Estados Unidos, o triste contexto de segregação racial do país na época dificultava a entrada de jogadores negros na liga. O público que frequentava os ginásios era majoritariamente composto por pessoas mais ricas, que podiam arcar com os caros ingressos. No entanto, a situação começou a mudar a partir de 1950, com a inclusão dos primeiros jogadores negros, como Chuck Cooper e Nat Clifton. Com o tempo, a NBA tornou-se mais inclusiva, ajudada pela ascensão de estrelas que revolucionaram o esporte e expandiram seu apelo popular.





A Origem do Streetwear no Basquete

A relação entre o streetwear e o basquete começou a se formar nas ruas, especialmente nas décadas de 1980 e 1990, quando o basquete deixou de ser apenas um esporte e passou a ser um componente essencial da cultura urbana. As quadras de basquete nas cidades, principalmente em bairros de Nova York e Los Angeles, se tornaram pontos de encontro de jovens que, além de competir, expressavam seu estilo e atitude através da moda.

Nessa época, o basquete de rua (conhecido como streetball) começou a ganhar destaque como um movimento social e cultural. As quadras urbanas reuniam talentos não só pela habilidade com a bola, mas também pelo modo como se vestiam. Esses jogadores traziam uma estética única, que misturava roupas largas, tênis de basquete e acessórios que definiriam mais tarde o streetwear.

Não demorou para que jogadores que vivenciaram de perto esse fenômeno social e cultural durante a infância e adolescência chegassem à tão sonhada NBA, que, nessa época, já havia se consolidado como a maior liga de basquete do mundo.

Julius Erving, conhecido como Dr. J, que encantou os fãs com seu estilo acrobático e elegante, e também o lendário Magic Johnson, que ganhou fama por sua magia em quadra, são exemplos de jogadores que se destacaram por suas habilidades excepcionais, mas também exibiram um estilo streetwear marcante fora das quadras, incorporando elementos que influenciaram a moda urbana de sua época.



Michael Jordan e o lendário Air Jordan 1

Além de ser considerado por muitos como o maior jogador de basquete de todos os tempos, Michael Jordan é, sem dúvida, um dos jogadores mais importantes quando se trata da fusão do basquete e do streetwear.

Nas quadras, o jovem da Carolina do Norte começou a encantar logo nos primeiros anos, demonstrando uma habilidade inigualável no ataque e um ótimo nível na defesa, combinando técnica e um atletismo impressionante que lhe rendeu o apelido de Air Jordan.

Já consolidado como um dos principais jogadores da liga, o jovem Jordan assinou em 1984 com a até então modesta Nike, empresa americana de material esportivo. A companhia apostou alto na jovem estrela, oferecendo o protagonismo da marca e até uma linha especial, que anos depois se mostrou como talvez o maior acerto da empresa.

Chega então em 1985 o lendário Air Jordan 1, um tênis único para a época, que combinava couro de alta qualidade com uma paleta de cores vibrantes, refletindo a influência da moda de rua tanto consumida pelos rappers americanos, atreladas diretamente ao que seria chamado de streetwear.

O tênis foi um fenômeno de venda e popularidade, ganhando o coração dos jovens do mundo inteiro, sendo de fato o primeiro tênis de basquete a furar a bolha e atingir outros públicos. A marca Air Jordan se tornou uma referência absoluta na moda, e a Nike se tornou uma das maiores empresas do segmento esportivo.

Com medo de perder o controle de seu próprio “código” de vestimenta, a NBA proibiu o uso do famoso tênis, o que só ajudou ainda mais na popularidade do mesmo. Michael, em um ato de rebeldia e valentia, continuou usando seu tênis em quadra. Essa história de rebelião ajudou a transformar o Air Jordan 1 em um símbolo de resistência e individualidade, temas que ressoam profundamente na cultura streetwear.

Além disso, o lançamento do Air Jordan 1 ajudou a criar o fenômeno da cultura sneakerhead, onde os tênis se tornaram itens colecionáveis e uma forma de expressão pessoal. Os jovens começaram a ver o Air Jordan 1 não apenas como um tênis de basquete, mas como um acessório de moda essencial.

 

Allen Iverson: O revolucionário das quadras e da moda

Por falar em uma jovem estrela que teve destaque instantâneo na liga e, de quebra, impactou a moda de maneira fenomenal, em 1996 o Philadelphia 76ers draftava na primeira colocação um jovem polêmico que revolucionaria o basquete para sempre com seu estilo único.

Allen Iverson cresceu em um bairro pobre da Virgínia e, assim como muitos jovens da mesma classe social, encontrou nas ruas e no esporte seu refúgio e esperança de mudar de vida para sempre.

Apesar de ter passado por um episódio conturbado de agressão, que lhe rendeu uma dura pena de 15 anos de prisão, a sentença foi reduzida para 4 meses de encarceramento. Iverson chegou à universidade e logo começou a se destacar no basquete e no futebol americano, mas foi a bola laranja que ele escolheu como caminho definitivo.

No início de sua carreira, Iverson já mostrava ser um jogador revolucionário. Com apenas 1,83 m de altura, ele desafiou o estereótipo de que um jogador menor não poderia dominar na NBA, e em sua temporada de estreia já deixava veteranos atordoados com sua habilidade, incluindo o lendário crossover em Michael Jordan, um feito impensável para um calouro.

Mas não foi só nas quadras que ele se destacou. Allen Iverson redefiniu a relação entre jogadores de basquete e a moda de rua, levando para a NBA uma autenticidade que refletia diretamente suas raízes e a cultura do hip-hop e do streetwear, fazendo com que seu estilo se tornasse tão icônico quanto seu jogo.

A influência de Iverson foi tão profunda que, em 2005, a liga implementou um código de vestimenta exigindo que os jogadores usassem roupas mais formais em eventos da NBA. No entanto, essa tentativa de reprimir seu estilo apenas reforçou sua imagem como uma figura icônica, inspirando muitos jovens da liga.

O streetwear de Allen Iverson não era apenas uma questão de moda, mas um ato de resistência cultural e de autoexpressão. Ele trouxe para a NBA uma identidade genuína, enraizada na cultura das ruas, representando a voz de uma geração que via no basquete e no hip-hop formas de ascensão social e de expressão pessoal.

Seu impacto vai muito além das quadras: Iverson redefiniu o conceito de estilo para jogadores de basquete e abriu as portas para que o streetwear se tornasse um fenômeno global, e isso impactou direto as futuras gerações.



Herança Cultural Contemporânea

O impacto causado por esses jogadores do passado reflete diretamente nos protagonistas de hoje. É comum ver, atualmente, jogadores com estilo de rua atrelado ao seu jogo e à sua forma de se vestir, sendo visto pela liga como algo positivo, diferente da década de 90 e início dos anos 2000.

Iverson, Jordan, Dr. J, Magic e outros grandes jogadores foram, muitas vezes, tratados como marginais por uma sociedade que não aceitava a ascensão de jovens periféricos, que tinham sua própria forma de expressão. A própria NBA tentou, em diversos momentos, censurar esse estilo revolucionário, buscando moldar essas estrelas para algo que estivesse mais de acordo com a realidade que a liga acreditava ser ideal.

Hoje, jogadores como Shai Gilgeous-Alexander, Kyle Kuzma, Jayson Tatum e Devin Booker são responsáveis por carregar um legado de luta e autenticidade. O streetwear continua cada vez mais enraizado na cultura do basquete, e muitas crianças se sentem representadas por esse estilo cativante e rebelde.

Mas essa raiz não está presente apenas na NBA ou nas grandes ligas. Seja nas quadras americanas ou nas periferias do Brasil, a cultura do streetwear prevalece como uma verdadeira resistência de um povo que, por muitas vezes, foi marginalizado por expressar sua verdadeira identidade.


Uma Última Palavra

Poderíamos citar dezenas, talvez centenas de exemplos que ilustram a relação direta entre o basquete e o streetwear. O próprio hip-hop, que por muitos anos foi uma cultura marginalizada, caminhou lado a lado com esses dois pilares da sociedade, demonstrando como os jogadores de basquete conseguiram traduzir suas raízes culturais em suas performances.

Você já havia percebido o quão profundamente essas duas culturas estão interligadas? Assim como os jogadores profissionais, os hoopers são fundamentais para a popularização dessa cultura em todos os cantos do Brasil. E para que você possa expressar essa autêntica conexão com suas raízes culturais, nossa loja oferece todos os produtos essenciais que você precisa!

Foto de Giovanni Paoli